Ela sentiu, com uma precisão cósmica, que se tratava de uma despedida. Uma despedida, mas não um adeus. Passados tantos anos, fechada naquele quarto, os desejos contraditórios não a deixavam dormir. Não tinha explicação para o que estava a acontecer, e embora o pressentisse, não podia admitir esse sentimento. Por isso, manteve-se fechada naquela quarto, 3 noites sem dormir. Não queria encarar as faces do amor, nem da tristeza, nem da dor, nem do desespero e por isso aboliu todos os objectos do quarto. O espelho foi o primeiro, por lhe devolver todas as faces ao mesmo tempo, depois as molduras, a música, as joias, os presentes, os livros, os cds, os quadros, até que restaram apenas as paredes brancas.
eu não quero sentir nada, pensou.
Mas era tarde demais, ou melhor, era mentira. Queria muito sentir, mais do que pudesse desejar...mas não agora, não neste momento, não depois de tantos anos.
Quando ainda jovem, deixou que uma cigana, que vagueava pela praia, lhe lê-se a sina. Encontou já o grande amor da sua vida e não mais se deixarão, sentenciou. Na altura não pôde deixar de sorrir, mas agora, fixando a palma das suas mãos, enrugadas pelo tempo, e fitando a cova deixada pela linha da vida, balbuciou.
- uma vida inteira...e só agora compreendo.
(cont.)
serviço publico (em agosto)
Há 5 anos
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