[assim de repente, tal qual foram]
No espaço de 4 meses perdi o meu avô querido (e já o único que tinha) e o meu pai. Estas perdas mudaram o meu mundo (claro), mas de uma forma repentina. No espaço de segundos, relativizei uma vida de uma forma como eu nunca pensei possível. No espaço de segundos percebi como tanta coisa a que damos importância... deixa de fazer completo sentido, aprendi como o tempo não resolve as coisas porque simplesmente não chega, aprendi que devemos dizer tudo o que sentimos sob pena de nunca mais o podermos fazer e aprendi que não há saudades como as saudades de um futuro que já não vai existir. E foi tudo assim, imediato, logo após as palavras da médica num corredor de hospital. Como uma avalanche que nos cai em cima e inexplicavelmente continuamos de pé... o coração continua a bater, continuamos a respirar e não temos desculpa para parar o mundo ou hipótese de voltar atrás.
A perda do meu avô, embora repentina (pois estava bem de saúde) é mais ou menos aceitável (como se fosse opcional). A do meu pai não... foi cedo demais, não é justo. Ainda havia muita coisa para vivermos, para resolvermos... ainda havia muita coisa para lhe dizer e que ele não sabe. Custa-me que tenha estado demasiado preocupada com coisas más ao ponto de me impedirem de ver as coisas boas, Custa-me não lhe ter dito mais vezes que gostava dele. Eu sei que ele sabia... mas todos queremos ouvir.
Resta-me a consolação de ter falado com ele horas antes, de lhe ter perguntado se estava tudo bem e perceber pela voz que estava bem e feliz. Resta-me a consolação de ter tido tempo de me despedir, dizer que estava tudo bem, que não se preocupasse e que eu gostava muito dele... e de acreditar que ele ouviu, mesmo que os médicos dissessem que não.
mas isso é pouco e as saudades moram no meu coração.