É tão boa a crónica de Pedro Rolo Duarte deste mês na revista Lux Woman que tive vontade de a transcrever inteirinha. Não foi toda, mas foi quase. Identifiquei-me com tantos dos sentimentos ali descritos e só espero recuperar, nos 5 anos de difrença, aquilo que ainda não tive apesar de ter decidido aliviar a bóia.
"Separei-me - ou melhor dito, divorciei-me- há dez anos. (...) Os anos que se seguiram foram vagamente caóticos, algures entre a negação de um falhanço e aqueles coices disparatados dos animais, sem direcção certa, sem rumo, apenas com vontade. Aos 37 anos eu queria tudo menos perder tempo, por isso decidi refazer a minha vida o mais depressa que fosse possível. Queria voltar a casar, queria ser pai outra vez, queria fazer tudo igual, mas desta vez bem feito.
(...)
Acordei antes do salto final para o abismo. E decidi aproveitar o tempo - isto é, viver. O verbo é muito fácil de conjugar, muito difícil de praticar. Viver, nestas circunstâncias, significa uma séria de outros verbos: crescer, amadurecer, aprender, esperar, acrescentar. Nem sempre eles se conjugam com os dias, é verdade, mas tentar não custa.
(...)
Aprendi a viver no caos. E a tirar partido dele. De certa forma, tornei-me uma espécie de livro permanente de auto-ajuda, procurando tirar dos maus momentos os bons ensinamentos, e aplicando o que fui aprendendo nos passos seguintes. Muitas vezes invejei os casais felizes que via nos restaurantes ou na praia ou no jardim, muitas vezes me interroguei sobre o facto de não ter voltado a casar. Mas a cada pergunta-isto é, a cada momento vivido-, obtive sempre a mesma resposta: não tenho de me resignar a uma vida que me fará infeliz. Nem a uma paz podre sem saída. Nem à submissão a um estereótipo social. A partir do momento em que aprendi a estar comigo, e a gostar de estar comigo, o patamar de exigência subiu: só saio daqui para melhor. Para muito melhor. E foi como se tirasse o pipo a uma bóia- a pressão baixou, o ar começou a circular livremente, e eu deixei de ser ingénuo quando vejo uma família aparentemente feliz num almoço de domingo.
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O que quer isto dizer? Algo tão simples que parece tolo, mas talvez devesse ser o começo de qualquer reflexão: somos nós que fazemos a nossa vida. "
serviço publico (em agosto)
Há 5 anos